O que fazer quando for “queimado” por uma água-viva ou caravela?
As águas-vivas e caravelas – cnidários que podem causar as famosas “queimaduras” – são mais comuns nas praias nesta época do ano, provavelmente devido ao seu período de reprodução, o que aumenta as chances de encontro com banhistas.
Em entrevista para o Blog Biologia Total, O Dr. Vidal Haddad Junior, dermatologista e professor da UNESP-Botucatu, um dos maiores especialistas no assunto, explica o que fazer quando for “queimado” por uma água viva ou caravela.
Em primeiro lugar, temos que entender do que se trata o ferimento. Embora o termo “queimadura” seja muito utilizado para se referir aos ferimentos causados por estes animais, o contato com águas-vivas causa um envenenamento, com dor em ardência e marcas de inflamação muito similares às causadas por queimaduras.
A lesão provocada é proveniente do contato com pequenas células especializadas presentes especialmente nos tentáculos dos cnidários, os cnidoblastos ou cnidócitos. Estas células parecem uma bolsa e guardam uma “arma” que auxilia as águas-vivas e caravelas na sua defesa. O cnidoblasto é acionado assim que tocado e libera de dentro dele uma espécie de arpão que atinge a vítima. Este arpão se chama nematocisto e apresenta uma substância urticante que causa irritação e até paralisia em pequenos animais.
(Nematocisto antes e depois da descarga. © Designua | Shutterstock.)
Segundo o Professor Vidal, “a quantidade de veneno injetada é variável, podendo causar desde marcas pequenas e dor discreta até comprometimento de grandes áreas e problemas respiratórios e cardíacos, que podem provocar até a morte. No Brasil a maioria dos acidentes são leves a moderados e não comprometem órgãos além da pele, mas existem algumas espécies com potencial de se associarem a acidentes graves”.
Tratamento
De acordo com o Professor, o tratamento ideal deveria empregar o uso de soro contra o veneno, entretanto este não existe. Por isso, recomenda-se como medida de primeiros socorros a utilização de água do mar gelada em compressas para anestesiar o local, além de banhos de vinagre – o que impede as células venenosas ainda aderidas na pele de dispararem e aumentarem ainda mais o envenenamento. “Estas medidas costumam controlar os acidentes no Brasil e podem ser aplicadas ainda na praia, o que é uma vantagem imensa. Remédios para dor, se necessários, devem ser aplicados em um hospital”, ressalta o Professor.
E o xixi? E água-doce? Segundo o Professor Vidal, qualquer medida que não tenha sido mencionada acima NÃO DEVE SER UTILIZADA, pois não há evidências científicas de sua eficácia e algumas delas podem causar infecções ou aumento da inflamação local. A água doce em especial dispara os nematocistos íntegros por osmose e aumenta o envenenamento, por isso jamais deve ser utilizada.
Quando procurar ajuda médica?
Na maior parte dos casos, os acidentes por cnidários no Brasil não causam nada muito grave. “Caso haja a formação de bolhas e feridas é interessante procurar um médico, mas se não houver complicações na pele, o problema acabou quando a dor passou”, ressalta o Professor Vidal.
Sempre vale lembrar, não entre na água se souber que houve acidentes nas proximidades ou quando caravelas e águas-vivas estiverem na água.